O Menino e o Mundo é incrivelmente sensível, denso e elaborado.
Mas, sinceramente, um dos grandes trunfos dessa narrativa é que se torna muito difícil contá-la. É preciso experienciá-la. A jornada inteira na qual embarcamos com esse menino é contada "aos olhos de uma criança", numa perspectiva lúdica, imaginativa e mítica.
Mas isso, de forma alguma, faz menor as questões levantadas pelo filme. Muito pelo contrário, somos carregados por transformações urbanas e sociais que refletem exatamente o momento que estamos vivendo, repensando consumo; modernidade; industrialização e sustentabilidade. Uma viagem que nos faz refletir como chegamos onde estamos.
Outro grande trunfo é a trilha sonora. O filme inteiro sem textos verbais, sem palaras, que em muitos momentos nos faz reviver a sensação de como é não saber ler, apoia-se numa construção musical marcante e bem brasileira. Completamente original, a produção musical é encabeçada por Ruben Feffer e Gustavo Kurlat e conta com as participações especiais de Emicida, Naná Vasconcelos, Barbatuques e GEM- Grupo Experimental de Música.
O tema principal você pode ouvir aqui:
No Oscar 2016, que vai ao ar esse domingo, O Menino e o Mundo representa o Brasil na categoria 'Melhor Animação' contra quatro outras produções: Anomalisa; As Memórias de Marnie; Shaun, o Carneiro e, o desnecessário favorito, Divertida Mente.
Falo com esse tom sobre o filme da pixar, mas não é que não gostei. É que parando pra pensar melhor animação, eu não acho que a Disney conseguiu chegar perto da sensibilidade que O Menino e o Mundo alcança. E não em questão de roteiro, em questão de obra completa mesmo. Divertida Mente muitas vezes me vem como um filme que poderia ter uma versão live-action, com pessoas atuando, com cenários digitais. Sei que é um pecado colocar essas comparações no mundo das animações, e tudo é bem bonitinho e bem feito.
O negócio é que com O Menino e o Mundo a forma de animar conta a história tanto quanto o roteiro e a música; o encontro e a sincronia desses três elementos nos desliza pela narrativa e constroi efeitos de sentido necessários para o momento de contato com aquelas reflexões.
Como os movimentos são a partir de desenhos é muito interessante ver os cenários, personagens, objetos se construindo e desconstruindo. Se transformando. Ainda, conforme a aventura vai sendo vivida, vamos percebendo que o estilo desenhístico vai se transformando; desde um desenho simples de uma criança muito pequena até mais complexos e detalhados.
O legal é que é uma história muito brasileira, cheia de marcas fortes da nossa cultura e do nosso processo de modernização, mas também uma história universal. Tomara que se espalhe para o mundo! E, se você ainda não foi convencido, fica o trailer aqui embaixo. Mas tenho certeza que ninguém vai se arrepender.
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